Jesus – Colômbia
Uma pintura de Jesus com elementos da cultura colombiana, instrumentos
musicais, sombrero (chapéu) vueltiao, típico das sabanas de Córdoba, Sucre y
Bolívar, regiões da colômbia. Também o monograma da Companhia de Jesus (IHS-Jesus
Salvador dos Homens), Jesus como sol maior que nos ilumina, e o Espírito Santo
simbolizado pela pomba vermelha que continua inspirando nossa caminhada, com as
7 velas, dons do Espírito. Faço também uma alusão a Eucaristia, alimento e
comunhão com a proposta de Jesus.
Segue um texto muito bom sobre a vida de Jesus:
“Comover-se-ão ao ver que Deus encarnado conviveu entre os homens fazendo
o bem, ´curando a vida`, ´defendendo os últimos`, ´amando a mulher` e
procurando a verdadeira dignidade”. E aos demais, a possibilidade de “conhecer
melhor um homem que marcou a história da humanidade”.
Jesus em seu contexto histórico, enquanto judeu da Galiléia e vizinho de
Nazaré. Foi sob o império de Roma que viveu esse galileu de nome Yeshua, entre
pessoas do campo e num ambiente de viva presença religiosa. Ele “cresceu no
meio da natureza, com os olhos muito abertos para o mundo que o rodeava”, e
isso se expressa na abundância de imagens que emprega em sua fala, adornada com
elementos de seu espaço circundante: os pássaros do céu, as anêmonas das
colinas de Nazaré, as ramas das figueiras, a beleza do sol e a força das
chuvas. O seu estilo de vida difere dos ascetas do deserto, pois vem marcado
pela vontade de vida e pelo toque festivo. A sua experiência de fé foi desdobrando-se
de sua vida simples na Galileia, no clima religioso propício de sua aldeia. Ali
foi percebendo que “Deus é o ´Pai do céu`. Não está ligado a um lugar sagrado.
Não pertence a um povo ou a uma raça concretos. Não é propriedade de nenhuma
religião. Deus é de todos”. Ali cresceu apaixonadamente em seu coração o amor
pelo reino de Deus, que se tornará a razão central de sua vida e atuação.
Jesus como buscador de Deus e profeta do reino de Deus. Assim como o
profeta João Batista, que o precede, Jesus busca captar a vontade de Deus, mas
sua perspectiva é distinta. Seu estilo de vida é festivo, marcado pelo tônus da
alegria. Vai dedicar-se “a algo que João nunca fez: curar os enfermos que
ninguém curava, aliviar a dor de pessoas abandonadas, tocar leprosos que
ninguém tocava, abençoar e abraçar crianças”. Enquanto a missão do Batista
estava vinculada à questão do pecado, o projeto de Jesus tinha como objetivo
aplacar o sofrimento dos mais excluídos e necessitados, anunciando-lhes uma Boa
Notícia: “É mais determinante em sua atuação eliminar o sofrimento do que
denunciar os diversos pecados das pessoas”. No cerne de sua atuação encontra-se
a “paixão pelo reino de Deus”. Trata-se do núcleo medular de sua pregação, da
convicção mais profunda que o anima e o segredo de sua motivação existencial. E
essa mensagem do reino volta-se privilegiadamente para os pobres. Jesus
declara-os felizes porque Deus é amigo da vida e quer fazer do seu reino uma
manifestação da compaixão de Deus que rompe com a situação de miséria e
opressão e anuncia uma perspectiva nova de esperança e alegria. Esta é a razão
do impacto exercido pela mensagem de Jesus desde o início: “Aquela maneira de
falar de Deus provoca entusiasmo nos setores mais simples (...). Era o que eles
precisavam ouvir: Deus se preocupa com eles. O reino de Deus que Jesus proclama
corresponde ao que eles mais desejam: viver com dignidade”. Esse reino que vem,
longe de ser uma expressão de poderio ou glória, é a manifestação efetiva da
bondade e compaixão de Deus, que removem as entranhas.
Jesus como o poeta da compaixão e curador da vida. É à linguagem dos
poetas que Jesus recorre para expressar a sua experiência e compreensão do
reino de Deus. São ricas as imagens, metáforas e parábolas que utiliza para
traduzir de forma simples, clara e acessível o seu projeto de vida. O que
anuncia é um Deus compassivo, inigualável metáfora para expressar o seu
mistério de vida. E o autor indaga: “Será esta a melhor metáfora de Deus: um
pai acolhendo de braços abertos os que andam ´perdidos` fora de casa e
suplicando a todos os que o contemplam e ouvem que acolham com compaixão a
todos?”. Com base na parábola do bom samaritano, Pagola sinaliza que “a melhor
metáfora de Deus é a compaixão para com um ferido”, e que o reino de Deus acontece
onde quer que “as pessoas atuam com misericórdia”. Jesus é também curador da
vida: alguém que contagia saúde e vida, e junto a ele não há lugar para a
tristeza ou solidão. A acolhida e o cuidado são traços singulares de sua
atuação. Na base dessa força curadora está a dinâmica de sua própria pessoa:
“seu amor apaixonado à vida, sua acolhida afetuosa a cada enfermo ou enferma,
sua força para regenerar a pessoa a partir de suas raízes, sua capacidade de
transmitir sua fé na bondade de Deus. Seu poder de despertar energias
desconhecidas no ser humano criava as condições que tornavam possível a
recuperação da saúde”.
Os traços de Jesus como defensor dos últimos e amigo da mulher. A Boa
Notícia do reino de Deus toca de modo particular os mais sofridos e pequeninos.
Essa é a grande revolução trazida por Jesus, inaugurando a centralidade do
“código da compaixão”. Com base na parábola do juízo final (Mt 25,31-46),
Pagola indica que “o caminho que conduz a Deus não passa necessariamente pela
religião, pelo culto ou pela confissão de fé, mas pela compaixão com os ´irmãos
pequenos`”. Conclui dizendo que “a religião não detém o monopólio da salvação;
o caminho mais acertado é a ajuda ao necessitado. Por ele caminham muitos
homens e mulheres que não conhecem Jesus”. Em seu livro, Pagola confere um
importante lugar para as mulheres no
movimento de Jesus. Foram verdadeiras “discípulas de Jesus”, estando presentes
e atuantes desde a Galileia até Jerusalém. Elas “fizeram parte do grupo que
seguia Jesus desde o início”. Algumas são nomeadas, como Maria de Mágdala, que
ocupa um lugar de destaque, sendo sua melhor amiga. O autor assinala a presença
delas na última ceia e o seu lugar protagônico na fé pascal.
Jesus como mestre de vida, criador de um movimento renovador e crente
fiel. Jesus foi um “mestre pouco convencional”. Para ele não é a lei que está
no centro, mas o amor. Em sintonia com toda a reflexão anterior, Pagola indica
que o reino de Deus anunciado por Jesus exige, antes de tudo, fidelidade ao
Deus da Vida e da Aliança. O importante “não é contar com pessoas observantes
da leis, mas com filhos e filhas que se pareçam com Deus e procurem ser bons
como ele o é”. O que Jesus criou, de fato, foi um “movimento renovador”, um
“movimento de homens e mulheres saídos do povo” que, em sua companhia, firmam a
“consciência da proximidade salvadora de Deus”. Seus seguidores são chamados a
“compartilhar sua paixão por Deus e sua disponibilidade ao serviço de seu
reino”. Na edição anterior do livro havia uma passagem que foi retirada na nova
edição e que dizia “que Jesus não pôde nem quis colocar em marcha uma
instituição forte e organizada, mas um movimento curador que foi transformando
o mundo numa atitude de serviço e amor. Não há como explicar a atuação
profética de Jesus sem captar o mistério de sua relação amorosa com Deus. ”. É
Deus que está no centro de sua vida.
Para Jesus, Deus não se reduz a uma teoria, mas é uma Presença que o
transforma interiormente e faculta a tonalidade de sua vida de abertura e
compromisso com os outros. A Deus, como Pai, dedica sua oração nos momentos
cruciais de sua caminhada. Jesus sempre se dirige a Deus como “Pai”, com quem
partilha confiança e intimidade. É o Pai do céu, que “não está ligado ao templo
de Jerusalém nem a nenhum outro lugar sagrado. É o Pai de todos, sem
discriminação nem exclusão alguma. Não pertence a um povo privilegiado. Não é
propriedade de uma religião. Todos podem invocá-lo como Pai”. O mistério de
Deus é vivido por Jesus de forma peculiar: nele encontra o “melhor amigo do ser
humano” e o “amigo da vida”. Estabelece também com ele uma peculiar “intimidade
filial”. Uma das “deficiências” indicadas pela crítica da CEE contra o livro de
Pagola foi a carência de uma explicitação da consciência filial divina de
Jesus. O que o autor sublinha em seu livro, em sintonia com o seu propósito de
se fixar no âmbito da investigação histórica, é que “Jesus mostra-se muito
discreto sobre sua vida interior”. Retoma a questão mais adiante assinalando
que “ao que parece, Jesus nunca se pronunciou abertamente sobre sua pessoa. A
questão de sua messianidade respondia de forma ambígua”. Na edição anterior
tinha sido mais contundente: “Em nenhum momento manifesta pretensão alguma de
ser Deus: nem Jesus nem seus seguidores em vida utilizaram o titulo de ´Filho
de Deus` para confessar sua condição divina”.
Morte e ressurreição de Jesus. Pagola indica em sua obra que o final
trágico encontrado por Jesus foi resultado de sua vida e luta em favor do reino
de Deus: “Não foi uma surpresa. Fora sendo gestado desde que ele começou a
anunciar com paixão o projeto de Deus que ele trazia no coração”. Foi alguém
“coerente até o final”, um “mártir do reino de Deus”. Segundo Pagola, a
investigação histórica indica que a morte de Jesus não pode ser interpretada numa
perspectiva sacrificial. Na verdade, “nunca se vê Jesus oferecendo sua vida
como uma imolação ao Pai para obter dele clemência para o mundo. O Pai não
precisa que ninguém seja destruído em sua honra. O amor que ele tem por seus
filhos é gratuito, seu perdão é incondicional”. Essa posição do autor também
causou dificuldade para seus opositores. Na apresentação de sua obra, Pagola
sinaliza que não quis concluir o seu livro com a perspectiva da cruz. Argumenta
que “não quis deixar os leitores confusos diante de um Jesus executado
cruelmente num patíbulo. Nem tudo terminou ali. Se a crucifixão tivesse sido a
última lembrança que restou de Jesus, não teriam escrito os evangelhos nem
teria nascido a Igreja”. Daí a centralidade da ressureição em sua obra, mas o autor
sublinha que sua abordagem do tema foi marcada pela fidelidade ao rastreamento
histórico das fontes. Na linha dessa abordagem, a ressurreição não significou
um retorno de Jesus “à sua vida anterior na terra”. Não foi, propriamente, um
“fato histórico” constatável e verificável, mas um “fato real”, que habitou e
marcou a vida de seus discípulos, e para os que crêem, um fato decisivo na
história humana. Trata-se de um “fato real” pois a fé dos seguidores de Jesus
não se fundou num vazio. De fato, “algo aconteceu neles. Todas as fontes o
afirmam: viveram um processo que não só reavivou a fé que tinham em Jesus, mas
os abriu para uma experiência nova e inesperada de sua presença entre eles”.
Identidade de Jesus. Seguindo o critério estabelecido por James Dunn,
segundo o qual o objetivo realista de uma pesquisa histórica sobre Jesus é o
“Jesus recordado”, o autor vai traçar as repercussões do impacto da
ressurreição nos seguidores mais próximos de Jesus. Sob o impacto desse “fato
real”, é toda uma releitura da vida e significado de Jesus que vem processada:
“Aquela vida surpreendente e cativante que conheceram de perto e cuja memória
guardam viva no coração adquire agora uma profundidade nova”. Pagola defende,
assim, a idéia de que a “lembrança” traduz o “ponto de partida da fé
cristológica”.
Importância de situar Jesus no centro do cristianismo, mas evitando
“reduzir sua pessoa a uma sublime abstração”. Driblando um dos riscos mais
ameaçadores para o cristianismo atual, que é o monofisismo, o autor busca sublinhar
os traços do Jesus profeta que percorreu com coragem os caminhos da Galileia.
Nada mais problemático para o cristianismo do que um Jesus sem reino e Pagola
está muito atento a isto. É para o reino que Jesus vive, é ele que motiva a sua
paixão e dá significado à sua vida. Assinala com precisão que “o que ocupa o
lugar central na vida de Jesus não é Deus simplesmente, mas Deus com seu
projeto sobre a história humana. Jesus não fala de Deus simplesmente, e sim de
Deus e seu reino de paz, compaixão e justiça” . São lindas reflexões que trazem
à tona o percurso reflexivo original da cristologia da libertação
latino-americana. O tema do seguimento de Jesus entra no final, coroando com
êxito a reflexão de Pagola. O que Jesus deixou atrás de si foi o projeto de dar
continuidade ao seu sonho de fraternidade. Não “pensou numa instituição
dedicada a garantir no mundo a verdadeira religião. Jesus pôs em marcha um
movimento de ´seguidores` que se encarregassem de anunciar e promover seu
projeto do ´reino de Deus` (...). Por isso, não há nada mais decisivo para nós
do que reativar sempre de novo, dentro da Igreja, o seguimento fiel à pessoa de
Jesus”.
Reflexões a partir do livro:
Jesus, aproximação histórica - José Antonio Pagola.
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