segunda-feira, 5 de junho de 2017

Encarnação.I



Encarnação.I

“Tomou-se verdadeiramente um de nós,
semelhante a nós em tudo, exceto no pecado.”

Nos últimos meses tenho pintado muito a imagem de N.Senhora com o menino Jesus em várias cores e formatos e, sempre me chamou muito a atenção este grande mistério da Encarnação. "Ele foi manifestado na carne" (1 Tm 3,16).

Sempre me encanta esta proximidade de Deus com nossa humanidade, Ele veio viver no meio de nós, assumiu nossa vida, nosso modo de viver, assumiu um corpo, uma família, um povo, nasceu de uma mulher, revelou-nos o Pai, apresentou um projeto de vida, como entender tamanha encarnação? “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,5-8).

Que deus em outras religiões se aproximou tanto de nós como nosso Deus em Jesus Cristo? Como entender tamanho amor e cuidado com seu povo? Acredito que mais que entender é acolher esta verdade: "Nisto reconheceis o Espírito de Deus. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus" (1Jo 4,2). Esta é a alegre convicção da Igreja desde o seu começo, quando canta "o grande mistério da piedade": "Ele foi manifestado na carne" (1 Tm 3,16). E quais as consequências em nossa vida desta encarnação de Jesus? Creio que somos também convidados a fazer este mesmo movimento encarnatório, quer dizer, também assumirmos nossa realidade, que é sagrada, que está cheia de Deus, cheia de seu Espírito. Como Ele, em uma realidade concreta, cheia de desafios e contradições, cheia de belezas e esperanças!

Interessante este processo, por isso o Filho de Deus, ao tornar-se homem, pôde aceitar "crescer em sabedoria, em estatura e em graça" (Lc 2,52) e também informar-se sobre aquilo que na condição humana se deve aprender de maneira experimental. Isto correspondia à realidade de seu rebaixamento voluntário na "condição de escravo".

Até que ponto compreendemos a força e a atualidade desta encarnação? Que realmente significa? A que somos chamados? Lembro-me quase que imediatamente da inspiração inaiciana: “encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus.”

Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse em nós. "Por sua Encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, se uniu a todo homem (a toda mulher)." Nós somos chamados a ser uma só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar (comungar), como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele), por nós e como nosso modelo, viveu em sua carne. (CIC.521)

Em minhas pinturas tenho encontrado muita consolação na figura de Maria, que belo exemplo a ser seguido: O título a Maria como Mãe de Deus foi confirmado no Concílio de Éfeso: “A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Diante dela, São Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso em 431, confessaram que "o Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem". A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde sua concepção. Por isso o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção humana do Filho de Deus em seu seio: "Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne". (CIC.466)

Creio que esta encarnação de Deus na realidade humana aconteceu ao longo de toda a vida de Jesus, não somente em sua concepção e nascimento, mas ao longo de todo seu caminho, Jesus foi se encarnando em cada momento de sua vida, em cada gesto, em cada fala, em cada toque, em cada olhar, e sempre abraçando, resgatando, salvando a humanidade.

         Uma vez que na união misteriosa da Encarnação "a natureza humana foi assumida, não aniquilada", a Igreja tem sido levada, ao longo dos séculos, a confessar a plena realidade da alma humana, com suas operações de inteligência e vontade, e a do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, teve de lembrar toda vez que a natureza humana de Cristo pertence "in proprio" à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Cristo é e o que faz nela depende do "Um da Trindade". Por conseguinte, o Filho de Deus comunica à sua humanidade seu próprio modo de existir pessoal na Trindade. Assim, em sua alma como em seu corpo, Cristo exprime humanamente os modos divinos de agir da Trindade: [O Filho de Deus] trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria, tomou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. (CIC.470)

Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ

Bogotá – Colômbia/2017.

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